quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ESTAMIRA: "Eu sou a beira do mundo"


Foi anunciado no dia 28 de julho, pelos principais meios de comunicação, o falecimento de Estamira Gomes de Sousa, protagonista do documentário de Marcos Prado (2006). 

O documentário apresenta a personagem, que dá nome à produção, através de sua história, vivências e perturbações. Estamira foi muito cedo conduzida à prostituição, sofreu com problemas conjugais, enfrentou a pobreza e abusos sexuais. Com a presença de um avô abusador, uma mãe sofredora desse contexto e psicótica, Estamira, embora tarde, teve desencadeado quadro psicótico de evolução crônica com alucinações.As razões pelas quais Estamira apresentava determinados assuntos como relevantes devem-se a sua constituição social e histórica, assim como a seu universo cultural e sua estrutura psicológica e genética.

Costumou-se a assistir o documentário, como análise de uma pessoa psicótica, onde podia-se observar seus sintomas e vida, mas Estamira também foi mãe, avó, amiga, trabalhadora, inteligente, mulher de bom caráter, admirável capacidade de raciocínio, uma vez que este não alterava-se, pois discorria  muito bem a cerca de determinados assuntos, inferindo juízos elaborados de base real. E através da alucinose, distinguia entre o real e a alucinação. 

“Coitada da minha mãe, mais perturbada do que eu. Bem, eu sou perturbada, mas lúcido e sei distinguir a perturbação, sabe como é que é?! E a coitada da minha mãe não conseguia, mas também pudera, eu sou Estamira...”.


Estamira, de 70 anos, estava internada no Hospital Miguel Couto, na Gávea, Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro e morreu em consequência de infecção generalizada. Marcos Prado, indignou-se:
Estamira ficou invisível pela falência e deficiência de nossas instituições públicas! Morreu depois de ficar dois dias esperando por atendimento nos corredores da morte do nosso maravilhoso serviço público de saúde do Miguel Couto. Ela estava com uma grave infecção no braço, mas foi tardiamente atendida. Obrigado meus políticos de Brasília, do Rio de Janeiro, que roubam nosso dinheiro e enfiam sei lá onde.


É com grande pesar que toma-se conhecimento do falecimento da ótima pessoa, que foi Estamira, e ao mesmo tempo, de acordo com Marcos Prado, é triste pensar que muitas Estamiras morram nas mesmas condições que nossa personagem, frente ao descaso dos órgãos “competentes”.
 
  “Visivelmente, naturalmente, se eu me desencarnar eu tenho a impressão de que eu serei muito feliz. [...] (o homem) depois que ele desencarna, [...] ele fica formato, a mesma coisa, mas só que fica transparente e fica tudo perto da gente, meu pai tá perto de mim, minha mãe, os amigos... a gente fica formato transparente e vai, vai como se fosse um pássaro voando”.





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