quinta-feira, 19 de maio de 2011

Luta Antimanicomial

               Nada mais apropriado para inaugurar o blog, do que trazer em pauta, no dia 18 de maio, uma luta de 24 anos: a Luta Antimanicomial. 

 Foto: Cláudio Edinger -  www.claudioedinger.com

Essa manifestação é realizada todos aos anos, procurando incentivar a reflexão da população participante acerca da necessidade da reforma psiquiátrica, uma vez que é indubitável a existência do asilamento e da violência institucionalizada em sanatórios. O sujeito internado em uma instituição psiquiátrica passa a ser, segundo Basaglia (1985),“antes de mais nada, um homem sem direitos, submetido ao poder da instituição, à mercê, portanto, dos delegados da sociedade (os médicos) que o afastou e o excluiu” (Basaglia apud Grunpeter, Costa e Mustafá, 2007, p.511).

 Foto: Cláudio Edinger -  www.claudioedinger.com

Até o século XIII, deficientes mentais e leprosários eram recolhidos da sociedade. Logo foram criados asilos especialmente para deficientes mentais, mas não primavam por tratamentos, tampouco socialização. Os que se institucionalizaram posteriormente incluíam tratamento médico, mas não psiquiátrico e mantinham os pacientes acorrentados em ambientes sujos, úmidos e apertados, com pouca luz e água, vestindo-os com trapos ou deixando-os nus.  Com a reforma psiquiátrica de Philippe Pinel (1745-1826), médico francês por muitos considerado pai da psiquiatria, que o tratamento dos pacientes diferenciou-se. Em 1794, Pinel inicia o movimento no-restraint, retirando as correntes dos doentes de Paris.

Foto: Cláudio Edinger -  www.claudioedinger.com

No século XX, iniciam-se as manifestações a favor da luta antimanicomial. Franco Basaglia (1924 -1980) foi um dos principais precursores em Trieste, na Itália. Promoveu a substituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede de atendimento em que faziam parte serviços comunitários, emergências psiquiátricas em hospital geral, cooperativas de trabalho protegido e Institutos Franco Basaglia, que resumiam-se em centros de moradias assistidas. A partir de Pinel e Basaglia, surgiram muitas outras interferências na psiquiatria, como manifestações por mudança e portarias de leis.
A psicologia social teve papel importante nos fundamentos teóricos dos estudiosos tanto da disciplina em questão quanto dos pensadores influenciados por eles.  O seu objeto de estudo constitui-se na análise acerca da interação comportamental interpessoal, sob a interferência de fatores situacionais. Seu florescimento deu-se nos Estados Unidos, e alguns autores acreditam que, também na Europa. No primeiro, contextualizou-se nas perspectivas sociológica e psicológica, assumindo diferentes formas. Essas formas de psicologia social foram influenciadas, cada uma, por sua disciplina-mãe. Isso fez com que diferissem em conceitos e contextos de desenvolvimento.
As palestras realizadas na Universidade de Chicago por Mead eram consideradas importantes para os estudos da disciplina. Com a morte de Mead, Blumer assumiu as palestras e intitulou a concepção de Mead como um “interacionismo simbólico”. Ela expressa a ideia do ato comunicativo como a unidade básica de análise da psicologia social. Dessa forma, o interacionismo simbólico é uma forma sociológica de psicologia social, que iniciou em Chicago frente à interpretação de Mead, por Blumer. As ideias de Mead influenciaram diversos estudiosos de psicologia, como de várias outras disciplinas. Erving Goffman foi um deles. Sociólogo e escritor é autor de Prisões manicômios e conventos, que possui fundamental importância no processo de transformação do tratamento psiquiátrico (reforma psiquiátrica) e luta antimanicomial em nossos dias. 
Em meio às manifestações surgem os CAPS - Centros de Atenção Psicossocial, visando não ser complementar ao hospital psiquiátrico, mas substituí-lo, proporcionar aos usuários da instituição atendimento, acompanhamento clínico e reinserção social através do trabalho , lazerexercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.
Segundo o Ministério da Saúde, é função do CAPS: 
  • Prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais psiquiátricos;
  • Acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território; 
  • Promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais;
  • Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação;
  • Dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica;
  • Organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios;
  • Articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado território.

http://www.sjtresidencia.com.br/invivo/?p=18487  
http://www.portalfolha.com/?p=1638
              
http://www.portalfolha.com/?p=1638

http://www.caratinga.mg.gov.br:8080/noticias/saude/caps-promove-carnaval-aos-assistidos
 
Essas tendências impulsionam direta e indiretamente as manifestações sociais atuais contra a permanência dos manicômios, ainda existentes. Outro exemplo de obra em prol ao movimento antimanicomial é o livro Canto dos Malditos, de Autregésilo Carrano, livro esse que inspirou a produção cinematográfica Bicho de Sete Cabeças. A metodologia utilizada na exposição das idéias antimanicomiais, envolveu a produção escrita e artístico-visual para a realização desta, incluindo a exposição e discussão sobre o exposto.
Dessa forma, vê-se a necessidade de manter viva a manifestação pelos direitos dos portadores de deficiência mental, assim como os fundamentos teóricos que dão base para a continuação desse protesto. A psicologia contribuiu com temas importantes para a elucidação da questão em pauta, mas cabe aos teóricos atuais não perderem de vista as idéias anteriormente mencionadas e desenvolverem modos de garantir a melhor convivência social. Isso, sendo válido, à quem tanto depende da saúde pública e de sua sociedade.

Psicologia Social. 2010. Disponível em Wapedia: <www.wapedia.mobi/pt/Psicologia_social>. Acesso: 21 de maio de 2010.
 Erving Goffman. 2010. Disponível em Wapedia: <http://wapedia.mobi/pt/Erving_Goffman>. Acesso: 21 de maio de 2010.
 Tocchetto, Gabriela; Bohmgahren, Joana. Psicologia e Luta Antimanicomial. 2007. Trabalho acadêmico – Departamento de Psicologia Social e Institucional – UFRGS/IP. Disponível em: <www.ufrgs.br>. Acesso em: 21 de maio de 2010.
 FARR, Robert M. As Formas Sociológica e Psicológica da Psicologia Social. In:____________. As Raízes da Psicologia Social Moderna (1872-1954). Petrópolis: Vozes, 1996. cap. 7, p.151-165. 
  

Segue um Vídeo, retirado da internet, que retrata um pouquinho da história dessa Luta e sua importância:



 
 
Observações:
As imagens que ilustram os manicômios são fotografias tiradas pelo fotógrafo Cláudio Edinger, que apresenta em seu site álbuns lindíssimos.
 
 
Sugestões:

Assistam aos filmes Bicho de Sete Cabeças (brasileiro, ótimo, ótimo, ótimo!) 
e Um Estranho no Ninho (de 1975, indicação da minha professora).



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